Friday, April 10, 2020

O que um astronauta pode ensinar sobre isolamento. Prof. Julio Francisco Dantas de Rezende


O astronauta americano Scott Kelly foi convidado pela organização Explore Mars para comentar sobre como a experiência da solidão de um astronauta no espaço pode ser útil para pessoas comuns lidarem com o momento de quarentena. No streaming, realizado em 9 de abril de 2020, Scott comentou:  Na estação espacial, geralmente estamos sempre muito ocupados, depende da quantidade de atividades de pesquisa científica que necessitamos fazer!
            Destacou também que hoje estamos todos em uma mesma missão: enfrentar uma epidemia, de assumir a responsabilidade de fazermos nosso papel em manter nosso isolamento social. Enfatizou a importância de em qualquer missão na vida, como é esta época, de fazermos um calendário (planejamento) de coisas que precisamos fazer; de cuidar do ambiente (da estação e de nós mesmos) e de procurarmos melhorar esses ambientes (pessoal e coletivo).
A metáfora dos astronautas pode ser útil de muitas formas. Eu, Julio Rezende, um astronauta análogo, também opino sobre a experiência de ser astronauta: nós precisamos ser astronautas de nós mesmos! O que isso significa? Significa, metaforicamente, em sairmos de nós mesmos, como se o nosso corpo físico fosse uma estação espacial e nossa consciência fosse o astronauta que faz uma atividade extraveicular. Existe a necessidade, por um momento,  de abandonar nossa perspectiva pessoal e olharmos nossa vida de uma forma diferente, sob um novo olhar. 
Encarando o período de quarentena como uma missão espacial, quando se está no interior da Estação Internacional Espacial-ISS flutuando no espaço infinito, ou quando não se pode sair para uma caminhada, é muito importante pensar como este período pode ser produtivo.
Seja no isolamento, para combater a propagação do coronavírus, seja no interior da Estação Espacial Internacional, devemos usar nossa imaginação para observarmos o que de criativo podemos fazer neste período. A quarentena pode servir para programarmos a leitura daquele livro que foi adquirido e não lido; 2) Iniciar um curso on line; 3) escrever livros e artigos. É claro que essas sugestões são resultado muito de uma visão pessoal. Isso será importante para a saúde mental.
Além de tudo o que foi dito, este é um momento de mudança pessoal, de escrever uma nova história. Na minha experiência, só comparo agora a quando meu pai adoeceu em 1999, quando completaria 80 anos. Até então era uma pessoa ativa. Observá-lo doente durante 4 anos me fez refletir sobre a morte e a emergência de realizar importantes projetos; que não havia tempo a perder; que deveria observar como poderia contribuir para um mundo melhor. Na minha experiência, o momento atual tem o mesmo significado.
A morte e a nossa finitude é uma importante mensagem e a única certeza que temos. A morte está viva neste tempo de pandemia, sempre lembrada nos noticiários. Steve Jobs, em 5 de outubro de 2011, fez um importante discurso na formatura de uma turma da Universidade de Stanford. Disse: “Lembrar que logo estarei morto é a coisa mais importante que encontrei para ajudar-me a fazer as grandes escolhas na vida”. Desse modo, fica a pergunta: como escrever uma nova história de um caminho de felicidade e responsabilidade? Lembre-se, como o astronauta Scott Kelly destacou: faça um planejamento de como aproveitar este tempo para algo transformador!

Julio Francisco Dantas de Rezende é administrador, psicólogo, professor da UFRN e diretor da FAPERN.

www.juliorezende.blogspot.com

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